3. A existência de João Garcia
Pouco se sabe do
percurso sentimental da personagem, aliás, precocemente abandonada pelo próprio
narrador, que o relegará a uma espécie de rumor público, ou melhor, a uma
narrativa próxima da vox populi. Com efeito, a existência
diegética de João Garcia parece confinar-se a um flirt que mal o chegou a ser, e, nesta matéria, ocupa menos espaço
do que Charles de Madame Bovary. Dito
por outros termos, frustradas que foram as expectativas iniciais do encontro
amoroso, João Garcia é olimpicamente remetido para uma espécie de nota de
rodapé e apenas se chega a saber, por interposta pessoa – na circunstância,
Damião Serpa –, que o antigo e insípido amante se casou, ao que parece sem
grande ardor, com a Laura Dutra, embora – acrescenta aquele orador do momento –
só tenha gostado de uma só pessoa – de Margarida [1].
Daqui se infere que também João Garcia tenha falhado o script da conquista amorosa, porquanto a confissão, para lá de
confirmar a assunção do seu genuíno sentimento pela rapariga, prova igualmente
que o seu casamento não terá obedecido a um processo eletivo, mas, antes, a um
leque mais ou menos circunstancial de fatores. Em suma, ter-se-á tratado de um
matrimónio por defeito.
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