1. A sílaba
Por seu turno, Viana (1892: 24) refere que:
Câmara (1976: 43) diz:
(4) A sílaba é uma divisão espontânea [e acrescenta que] a sílaba é a unidade fonémica elementar.
Face ao exposto, podemos representar os constituintes internos da sílaba como se segue [1]:
Daqui se infere que a sílaba (σ) é definida como uma estrutura hierarquicamente organizada em constituintes silábicos (2001: 23) que apresentam, no máximo, duas posições internas:
i) uma estrutura binária, constituída pelos constituintes Ataque e Rima (sendo que apenas a rima é obrigatória);
ii) a Rima possui, também ela, uma estrutura binária, composta pelo núcleo e coda, sendo que o núcleo é sempre preenchido por uma vogal e a coda, quando preenchida, é ocupada pela consoante teórica /S/ ou por uma soante, a saber [l], [ʎ], [ɾ] ou [R];
iii) cada constituinte está associado a um mínimo de uma posição e a um máximo de duas posições rítmicas, no nível do esqueleto;
iv ) cada posição rítmica no esqueleto pode – ou não – estar associado a material segmental.
Em Português, todas as consoantes podem preencher o Ataque (quer no início da palavra, quer no meio da palavra), muito embora as consoantes [ɲ], [ʎ] e [ɾ] dificilmente surjam em início de palavra.[2]
Por outro lado, importa referir que há todo um conjunto de restrições fonotácticas, sobretudo, no que toca aos ataques ramificados. Assim, apenas são legítimos os ataques que não violem o Princípio da Sonoridade.[3]
Face ao descrito, podemos concluir que existem três hipóteses teóricas a ter em conta no que toca ao constituinte ataque, a saber, que o mesmo pode ser:
Como ficou dito supra, a rima é composta pelo núcleo e pela coda, que é opcional. Na realidade, todas as vogais orais e nasais podem constituir o núcleo de sílaba em português, constituindo os chamados núcleos simples (10). Caso o núcleo seja preenchido por um ditongo decrescente (vogal + glide) ou crescente (glide + vogal), temos, então, um núcleo ramificado ou complexo (11):
1.2.3. a Coda
V, CV, CVC, VC, CCV, CCVC, CVCC, VCC, CCVCC e CVCCC
Todavia, e para o caso do Português, os formatos silábicos possíveis são:
V, CV, CCV, VC, CVC e CCVC
O Princípio de Sonoridade permite prever as sequências de segmentos possíveis numa língua, tendo em conta a sua hierarquia. Eis a sua enunciação:
(14) Os segmentos adjacentes numa mesma sílaba têm de ter entre si uma diferença de sonoridade igual ou superior a 4 [5] […], sendo sempre preferível um valor superior e sendo sempre marcada (ou impossível) uma sequência com um valor inferior.[6]
Barboza, J (1830) Grammatica Filosófica da Língua Portugueza. Lisboa: Academia Real
Bisol, L (1999) A Sílaba e os seus Constituintes. São Paulo SP: Humanitas
Blevins, J (1995) The Syllable in Phonological Theory. Cambridge: Blackwell
Câmara J (1976) Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis RJ: Vozes.
Cunha, C et al (1984) Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: João Sá da Costa
D’Andrade, et al (1993) Sinérese, diérese e estrutura silábica. Lisboa: Colibri
Freitas, M et al (2001) Contar (histórias de) sílabas. Lisboa: Colibri
Lobato, A (1824) Arte da Gramática. Lisboa: Typographia Rollandiana
Mateus, M et al (2003) Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa : Editorial Caminho
Mateus, M; D’Andrade, E (2000). The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford Univ. Press
© Manuel Fontão
The syllable is a very important unit. Most people seem to believe that, even if they cannot define what a syllable is, they can count how many syllables there are in a given word or sentence. If they are asked to do this they often tap their finger as they count, which illustrates the syllable’s importance in rhythm of speech.
Roach (2001: 70)
Apesar de parecer uma evidência mais ou menos intuitiva, a definição deste constituinte não se afigura de todo fácil e varia, de resto, com os autores e com as teorias. Assim, Lobato (1824: 41/2), por exemplo, define a sílaba nestes termos:
(1) A syllaba he a comprehensão de um som perfeito, que se pronuncia com hum só espirito, ou accento, como na sobredita palavra Livro, tanto li como vro he syllaba, porque cada hum delles faz hum som perfeito, que se profere com hum só espirito, ou accento.
Já Barboza (1830: 43) vai um pouco mais longe, pois que conseguiu erradicar a subjetividade da definição anterior, ao afirmar que:
(2) Syllaba quer dizer Comprehensão; porque he o ajuntamento de huma, ou mais Consonancias com huma voz, Diphthongo, ou Synerese, comprehendido tudo em huma so emissão.
Por seu turno, Viana (1892: 24) refere que:
(3) Uma só vogal, ou differentes associações de phonemas em que entre pelo menos uma vogal, proferidos numa só emissão de voz, numa só expiração, são denominados syllaba.
Câmara (1976: 43) diz:
(4) A sílaba é uma divisão espontânea [e acrescenta que] a sílaba é a unidade fonémica elementar.
Cunha & Cintra (1983: 53/4) apresentam uma definição de sílaba que releva da fonética da perceção, pois que faz apelo à natureza impressiva do sujeito falante:
(5) Quando pronunciamos lentamente uma palavra, sentimos que não o fazemos separando um som do outro, mas dividindo a palavra em pequenos segmentos fónicos que serão tantos quantas foram as vogais. […] A cada vogal ou grupo de sons pronunciados numa só expiração damos o nome de sílaba […] que pode ser formada por uma vogal, um ditongo ou um tritongo.
1.2. Os constituintes
Segundo Mateus & D’Andrade (2000: 60), que aplicaram ao PE o modelo de Blevins (1995: 213), apenas o Ataque e a Rima são os constituintes considerados obrigatórios, sendo que, na rima, o núcleo é de preenchimento segmental obrigatório, ao contrário da coda, que é facultativa.
Tal posição coincide com a perspetiva de Bisol (1999: 702), ao defender que a sílaba possui necessariamente um núcleo, sua essência, que, seguido ou não por coda, forma a rima; essa vem precedida pelo ataque que, em português não é obrigatório.
Tal posição coincide com a perspetiva de Bisol (1999: 702), ao defender que a sílaba possui necessariamente um núcleo, sua essência, que, seguido ou não por coda, forma a rima; essa vem precedida pelo ataque que, em português não é obrigatório.
Face ao exposto, podemos representar os constituintes internos da sílaba como se segue [1]:
Daqui se infere que a sílaba (σ) é definida como uma estrutura hierarquicamente organizada em constituintes silábicos (2001: 23) que apresentam, no máximo, duas posições internas:
i) uma estrutura binária, constituída pelos constituintes Ataque e Rima (sendo que apenas a rima é obrigatória);
ii) a Rima possui, também ela, uma estrutura binária, composta pelo núcleo e coda, sendo que o núcleo é sempre preenchido por uma vogal e a coda, quando preenchida, é ocupada pela consoante teórica /S/ ou por uma soante, a saber [l], [ʎ], [ɾ] ou [R];
iii) cada constituinte está associado a um mínimo de uma posição e a um máximo de duas posições rítmicas, no nível do esqueleto;
iv ) cada posição rítmica no esqueleto pode – ou não – estar associado a material segmental.
1.2.1. o Ataque
Em Português, todas as consoantes podem preencher o Ataque (quer no início da palavra, quer no meio da palavra), muito embora as consoantes [ɲ], [ʎ] e [ɾ] dificilmente surjam em início de palavra.[2]
Por outro lado, importa referir que há todo um conjunto de restrições fonotácticas, sobretudo, no que toca aos ataques ramificados. Assim, apenas são legítimos os ataques que não violem o Princípio da Sonoridade.[3]
Face ao descrito, podemos concluir que existem três hipóteses teóricas a ter em conta no que toca ao constituinte ataque, a saber, que o mesmo pode ser:
1.2.2. o Núcleo
1.2.3. a Coda
Como já foi aflorado acima, o número de codas admitidas é, com efeito, bastante reduzido, no Português. Assim, e segundo Mateus e Andrade (2000: 52) e Mateus et al (2003: 1047/8), as consoantes em coda são apenas três, as fonológicas /l/, /ɾ/ e /s/, com diferentes realizações fonéticas (4).
1.3. tipos silábicos
Blevins (1995: 217), tendo em conta a combinação de consoantes (C) e de vogais (V) na sílaba, propôs os esquemas silábicos possíveis para todas as línguas do mundo. Ei-los:
V, CV, CVC, VC, CCV, CCVC, CVCC, VCC, CCVCC e CVCCC
Todavia, e para o caso do Português, os formatos silábicos possíveis são:
V, CV, CCV, VC, CVC e CCVC
Daqui se infere que o Português não admite codas ramificadas, pelo que as possíveis combinatórias *VCC, *CVCC, *CCVCC estão proibidos, sendo que o formato de maior rendimento na Língua Portuguesa é, segundo D’Andrade e Viana (1993: 41) e Vigário e Falé (1993: 468), o esquema CV (consoante+vogal).
1.4. Princípio da Sonoridade
O Princípio de Sonoridade permite prever as sequências de segmentos possíveis numa língua, tendo em conta a sua hierarquia. Eis a sua enunciação:
(12) Numa sílaba, a sonoridade dos segmentos tem de decrescer a partir do núcleo até às suas extremidades.
in Vigário & Falé (1994: 473)
De resto, a sonoridade dos segmentos é definida pela seguinte escala, apresentada por ordem decrescente de sonoridade: Vogais > Líquidas > Nasais> Fricativas > Oclusivas. Veja-se o diagrama que se segue e os respetivos valores no interior da escala:
1.5. Princípio
da Dissemelhança
De acordo
com Vigário e Falé (1994: 473), a Condição de Dissemelhança deve especificar, para cada língua, o valor
da diferença de sonoridade que os segmentos adjacentes numa mesma sílaba devem
manter entre si.
in Vigário & Falé (1994: 474)
1.6. Princípio
de Ataque Máximo
Este
princípio refere que é preferível o
preenchimento de Ataque do que o preenchimento de codas (1994: 475).
1.7. Conclusões
Independentemente da definição de sílaba
e da corrente linguística considerada, podemos concluir que a sílaba é
importante para a fonologia, pois que:
i) as palavras da língua se organizam-se de
acordo com certos princípios;
ii) a sua estrutura nos permite
compreender como é que as palavras e morfemas se organizam de certa forma;
iii)
a sílaba também assume um papel importante na organização dos processos
fonológicos da língua;
iv)
a maior parte dos processos fonológicos, designadamente, as restrições
fonotácticas ocorrem ao nível da sílaba.
1.8. Bibliografia
Bisol, L (1999) A Sílaba e os seus Constituintes. São Paulo SP: Humanitas
Blevins, J (1995) The Syllable in Phonological Theory. Cambridge: Blackwell
Câmara J (1976) Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis RJ: Vozes.
Cunha, C et al (1984) Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: João Sá da Costa
D’Andrade, et al (1993) Sinérese, diérese e estrutura silábica. Lisboa: Colibri
Freitas, M et al (2001) Contar (histórias de) sílabas. Lisboa: Colibri
Lobato, A (1824) Arte da Gramática. Lisboa: Typographia Rollandiana
Mateus, M et al (2003) Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa : Editorial Caminho
Mateus, M; D’Andrade, E (2000). The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford Univ. Press
Vigário, M.; Falé, I. (1993). A sílaba do Português Fundamental: uma descrição e algumas considerações de ordem teórica. Lisboa: APL/Colibri
2. Retroalimentação
1. Procure sílabas que correspondam aos seguintes padrões:
4. Descubra
os sirremas [7]
supervenientes da fonética sintática:
4.1. [‘saβɨzԑ]: ______________________ /____________________________.
4.2. [Ꞌʃtaδu]: ________________________ /___________________________.
4.3. [ꞋaƷꞋγarɨʃ]: _____________________
/___________________________.
4.4.
[ꞋԑsɐꞋkanɐ]:
______________________ /___________________________.
4.5.
[dɨβaɫδɨ]: ______________________
/___________________________.
4.6.
[sɨꞋnɐ̃w̃]: ________________________ /___________________________.
4.7.
[ꞋtrezɨꞋkĩzɨ]:
_____________________ /___________________________.
4.8.
[uꞋzɐmuʃ]: ______________________ /___________________________.
4.9.
[uꞋzarɨʃ]: _______________________
/___________________________.
4.10.
[ꞋasɐꞋpatuʃ]: ____________________ /___________________________.
5.
Escreva a forma gráfica da transcrição fonética fornecida e esclareça se se
trata de um homófono ou de um homónimo:
© Manuel Fontão
_____________________
[1]
Esta estrutura não se aplica apenas ao português, Cf.Kenstowicz (1994: 252-253) :“[…] the syllable has traditionally been seen containing an
obligatory nucleus proceeded by an optional consonantal onset and followed by
an optional consonantal coda. The nucleus plus coda form a tighter bond than
the onset plus nucleus. Consequently, traditional grammar recognizes an
additional subconstituent called the rhyme (or rime) that includes the nucleus
and the coda.”
[2] É sobejamente conhecida a palavra /lhano/ (e as derivações por
sufixação lhaneza e lhanura), mas não se deve perder de vista que se
trata de um empréstimo (hispanismo).
[3] Princípio da Sonoridade: a
sonoridade dos segmentos que constituem a sílaba aumenta a partir do
início até ao núcleo e diminui desde o núcleo até ao fim.
[4] No PE, a supressão do [ɨ] depois de consoante e antes de final de palavra provoca, ao nível de superfície, a ocorrência de todas as consoantes em coda (por ex.: bate [bat], leve [lԑv], pode [pƆd], mas não se trata, aqui, de um qualquer esvaziamento do núcleo, nem tampouco a consoante fica em coda na representação lexical. Como prova disso, temos a fonética sintática: /mexe bem/ ou /mexe assim/ não surge realizado foneticamente como [mԑʃbɐ̃̃j̃] ou [mԑʃɐsĩ].
[5] De acordo com a Escala de Sonoridade apresentada em (13).
[6] Notar-se-á que alguns encontros consonânticos do Português, tais como oclusiva+nasal (pneu; gnomo, etc.), oclusiva+fricativa (psicologia; absinto, etc.) oclusiva+oclusiva (obter; captar, etc.), fricativa+oclusiva (espelho, oftalmológico, etc.), nasal+nasal (amnésia; mnemónica,
etc.) parecem violar o princípio da dissemelhança, pois que muitos
destes encontros consonânticos são mais ou menos contíguos...
[7] Agrupamentos de duas ou mais palavras que constituem uma unidade gramatical completa.
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