2012/07/12

a minha doce amarga loucura

a minha doce amarga loucura
resume-se a uma rocha bruta e escarpada
cujo feldspato espavorido agoniado alucinado
marcam as horas de quartzo de todos os sábados

um deles
o mais velho o mais experimentado
pesadamente carrega quer dizer arrasta
o árduo fardo a estéril herança
de um amanhã cavo
e desprovido de confiança

o segundo
talvez o mais astuto o mais competente
estridentemente avança sobre uma larga plataforma
vazia de esperança
e despojada de forma

o terceiro
o mais novo o mais ingénuo
hereticamente invade e ocupa e domina o espaço divino
do meu velho e solene bengaleiro
onde um antigo hábito de menino
foi ganhando forma de pecado

mas eu estava a falar da minha loucura quase sem querer
            
ó Lea da terra ardente burilada
ó mulher de mente pura
de espírito são de conduta sóbria
que cravas e entalhas sabiamente o olhar
nos teus campos de repouso e de cultura
diz-me se possuis o segredo da minha pedra angular
a chama da minha alma quer dizer
a chave da minha memória

 [in Palimpsestos]

© Manuel Fontão

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