2012/07/05

liberdade

estamos aqui sozinhos calados
e a luz lá fora parou de nos cegar
que o beijo trocado abriu de par em par
as portas dos nossos sentidos vendados

o mundo dos poetas faladores não existe
e as árvores e as flores e as plantas
tudo isso é um mundo de cera que não resiste
ao suor que desliza sob as nossas mantas

tudo o que então fizemos precipitados
foi rasgar fileiras no nosso espaço interior
e permanecer ali herméticos lado a lado

até que vencidos pela fome mordaz e incandescente
tragámos tal como os coelhos todo o nosso ardor
perante o olhar atónito de estranha e estulta gente
© Manuel Fontão

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