2012/07/10

eu sou do destino

eu sou do destino
um insubordinado vassalo

se ele por exemplo sugere ou ordena
um traço vertical ousado e fino
eu com a ajuda da pena
o negativo apresento e revelo
                                      
se ele por acaso a sua incomensurável liberdade
num gesto arrogante e abusivo utiliza
eu num sopro de raiva numa manobra de resgate
revolvo as marés e os ventos e as tempestades
que passam desde logo a uma amena e doce brisa

todavia
se ele sempre atento sempre vigilante
me pressente algures em dúvida algo hesitante
não perde o velhaco o depravado a bela ocasião
para se meter onde não foi requerido nem citado
                                      

é assim que eu sempre fiel à minha razão
sigo o meu curso o meu caminho
sem me importar em momento algum
se fomos nós que decidimos
se fui eu sozinho
                                      

não acredito nele não acredito
apenas esta constante e execrável suspeita
de não saber bem ao certo
se quando tomo por acaso a minha direita
foi de acordo com a minha única e real vontade
ou se foi como bem receio um derradeiro acerto
desta sempre nova e veneranda fatalidade

eu sou pois do destino um indisciplinado vassalo

tenho todavia a indelével a penosa impressão
que caminhamos eternamente ombro a ombro
lado a lado

 
[in Palimsestos]
© Manuel Fontão

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