2012/07/04

ah rouen rouen est-ce ici que je dois mourir


ele bateu ontem ao fim da tarde à tua porta
e tu tu teimosamente não abriste

disseram-lhe na pequena aldeia
que eras distante fria muito dura
e que nunca havias conhecido isto é que não conhecias
o gesto cortês a palavra ternura.

mas ele incauto imprevidente fazendo letra morta
das pessoas simples sem rodeios sem maldade
continuou insistentemente a bater à tua porta
mas tu claro tu não abriste não ouviste

oh Lea ele tinha nos lábios em pranto nas mãos em riste
uma mensagem forte que falava por exemplo dos campos
das flores
das árvores
dos montes sem idade
                                                         
sim Lea mulher bíblica de enleio de carmim
ele tinha nas mãos um arco-íris de múltiplas cores
uma paleta de sonhos árias várias emoções sem fim
sim ele tinha isso Lea no seu âmago
isso e muito mais

mas tu decididamente não abriste a tua porta
nem sequer a entreabriste
nem sequer lhe acenaste
e ele relapso vencido pelo cansaço concluiu
que as gentes simples rústicas tinham decerto razão
porque tu tu deveras és uma rosa encarnada
de pétalas exuberantes e carnudas que já não o são
                                  
se uma criatura em desespero em lágrimas
bater ao pesado portão da tua moradia
apressa-te pobre mortal a abri-lo de par em par
e dá-lhe guarida pão e vinho

oh Lea e ele então só te pedia ele só te pedia
que não o deixasses ali no subsolo sagrado do Vieux Marché sozinho
a braços com ferozes e estranhos mercadores
que transformaram a vitória de Orleães num óbvio caso de lupanar
© Manuel Fontão

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